MISSÕES

Missões, ou Missões do Uruguai, é a simplificação da expressão Território dos Sete Povos das Missões, que designa a região situada a noroeste do atual estado do Rio Grande do Sul, na atual fronteira entre o Brasil e a Argentina, a leste do vale do Rio Uruguai, palco da empreitada dos Jesuítas autônoma às potências colonizadoras européias, com o declarado objetivo de aqui criar um estado eclesiástico subordinado diretamente à Igreja Católica.

 

Breve história

Os padres Jesuítas da Companhia de Jesus, iniciaram bem cedo suas atividades catequizadoras a partir do litoral ao sul de Paranaguá, e daí para o interior do Continente.

Tomando contacto com o povo guarani que habitava o vale oriental do Rio Uruguai, conseguiram, a par de convertê-los ao Cristianismo, reuni-los em uma confederação de sete cidades autônomas, correspondentes às sete tribos indígenas originais: "San Nicolás", "San Luís", "San Lorenzo", "San Borja", "San Ângelo", "San Baptista" e "San Miguel".

Embora a maior parte dos jesuítas fosse de origem espanhola, esta região esteve, desde o Tratado de Tordesilhas, envolta em disputa entre Portugal e Espanha, razão pela qual, à revelia destas potências colonizadoras, tiveram tempo e liberdade para converter os guaranis ao cristianismo ao mesmo tempo em que passavam a eles os valores da cultura européia ocidental.

Em busca da utopia

Os Jesuítas sistematizaram a língua guarani dando-lhe grafia com caractéres latinos e produzindo boa quantidade de obras literárias, maior parte ligada à catequização. Com isto a grande maioria dos indígenas foi alfabetizada. Os jesuítas também ensinaram aos guaranis as técnicas construtivas européias, que primeiro foram empregadas para a construção de grandes igrejas e catedrais e mais tarde para construções civis em geral.

De início, foram introduzidas as técnicas de lavrar pedras, trabalhar a madeira, esculpir, gravar e mesmo pintar e fundir metais que foram aprendidas rápida e facilmente pelos guaranis que, já dóceis, foram aculturados nutrindo grande simpatia pelos Jesuítas. Mais tarde, cursos de poesia, música, oratória e ciências foram introduzidos.

Em mais de um século perseguindo o objetivo de criar uma sociedade com os benefícios e qualidades da sociedade cristã européia mas isenta dos seus vícios e maldades, os Jesuítas conseguiram organizar mais de 30 cidades, nas quais imperava uma sociedade quase utópica.

Estas cidades tinham como centro uma grande praça quadrada no centro da qual havia uma grande cruz e uma estátua do santo protetor. De um lado havia sempre uma grande igreja e nos três outros lados as construções civis.

A jornada diária de trabalho era de seis horas, a legislação civil parca e generosa. Não havia punições violentas e os preceitos eram quase inúteis pois não havia crimes.

O trabalho era comunal com partilha pacífica e justa dos resultados. Os desafortunados, os inválidos e as viúvas eram encargos comunais e havia várias instituições que construiam e mantinham hospitais, casas para viúvas, orfanatos, e vários outros serviços públicos gratuítos.

Boa porte do dia era dedicado a atividades culturais, como o estudo de música, aprendizado de artes, leitura, concursos e apresentações mais diversas.

O fim

Em 1750, a pendência entre Portugal e Espanha sobre os limites de seus domínios foi resolvida pelo Tratado de Madri, segundo o qual aquela região passou a pertencer a Portugal.

Apesar disto, os guaranis não aceitaram o tratado pois já estavam aculturados o suficiente para perceberem sua identidade e defenderem sua autonomia, incentivados pela idéia disseminada pelos Jesuítas de lá estabelecerem um Estado autônomo, senão sob a proteção direta (quiçá subordinação) da Igreja Católica.

Os jesuítas se mobilizaram e chegaram a oferecer aos reis da Espanha grande quantidade de tributos e riquezas para manter intacta aquela colonização baseada exclusivamente em valores religiosos e culturais. Em Portugal pouco poderam fazer, pois estavam deterioradas as relações entre aquela ordem religiosa e o Estado.

Diante das primeiras compulsões os próprios guaranis se rebelaram na chamada Guerra Guaranítica, que teria durado de 1750 até 1756, e resultou na restrição do território original, que só foi completamente conquistado pelas forças luso-brasileiras após a curta guerra de 1801 entre Portugal e Espanha.

Ao término de cada batalha ou refrega, além de grande quantidade de guaranis mortos, outros eram apresados como escravos. Muitos destes, para além de saberem ler escrever e fazer cálculos, eram magníficos artesãos e alguns até falavam fluentemente o espanhol e o latim.

Até hoje existem na região várias ruínas das construções de pelo menos três destas cidades, algumas declaradas patrimônio da humanidade, protegidas pelos governos locais (ver ligação externa).

 

Fonte: Wikipédia