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Antes de 1500, ano da chegada dos europeus, esta terra já era habitada por diversas tribos indígenas. Estima-se que viviam aqui aproximadamente cinco milhões de pessoas, divididas em vários agrupamentos. Sabemos hoje que o elemento básico de diferenciação desses agrupamentos era a sua língua, e que havia, antes da chegada dos portugueses, quatro grandes grupos lingüísticos: tupi, jê, aruaque e caraíba. Cada um desses grupos era dividido em várias famílias. Os historiadores encontram extrema dificuldade em estudar a vida dos povos que habitavam nossas terras antes da chegada dos portugueses. Os povos que habitavam a América Portuguesa, ao contrário daqueles que habitavam a América Espanhola, não desenvolveram a escrita. Sendo assim, há duas grandes fontes de estudo sobre esses povos: sítios arqueológicos e os documentos deixados pelos colonizadores. Nos sítios arqueológicos, os arqueólogos buscam todo tipo de vestígios de ocupação humana: restos de fogueira, pinturas rupestres, restos de corpos humanos, urnas funerárias, cerâmicas; enfim, todo tipo de vestígios materiais que possam fornecer pistas sobre os homens que habitaram essa porção da América do Sul antes da chegada dos europeus. Há diversos sítios arqueológicos importantes, que são continuamente explorados pelos pesquisadores. Entre eles estão Cunani, Maracá, Tapajó, São João e Pinheiro, na Bacia Amazônica; Santos, São Vicente, Laguna, Porto Belo, Rio Una, na zona costeira do Sul; Lagoa Santa, em Minas Gerais; São Raimundo Nonato e Sítio da Pedra Furada, no Piauí; Sítio da Toca da Esperança, na Bahia. A pesquisa arqueológica no Brasil começou em 1894, com escavações em Lagoa Santa, realizadas pelo dinamarquês Peter Lund. Dom Pedro II incentivou muito a continuidade das pesquisas, implementando o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Mas foi a partir de 1950 que as escavações ganharam verdadeiro impulso, com a vinda de muitos estrangeiros interessados nas diversas possibilidades de exploração de sítios arqueológicos praticamente intocados. Porém, mesmo havendo tantas possibilidades de exploração, é muito complexo o trabalho de reconstruir um pouco da história dos homens que viviam no Brasil antes da chegada dos portugueses apenas com base em vestígios materiais. Sabemos que a maior parte das tribos indígenas era nômade ou semi-nômade; como eram caçadores-coletores, mudavam constantemente de local para evitar que a escassez de animais e frutos provocada por um longo período de caça e coleta prejudicasse a tribo. Sabemos também que algumas tribos praticavam rituais antropofágicos, especialmente após uma guerra contra tribos inimigas: acreditavam que, se ingerissem a carne de guerreiros inimigos, receberiam também sua força e coragem. Em sua maioria, as tribos indígenas organizavam-se a partir de duas lideranças: o chefe guerreiro e o pajé. O primeiro representava a liderança da aldeia em questões militares, fazendo acordos com outros chefes guerreiros e organizando o deslocamento da comunidade quando chegava a hora de mudar de local de habitação. O pajé, por outro lado, era o intermediário entre o mundo terreno e o sobrenatural: era o curandeiro da tribo, e interpretava sonhos e presságios. Porém, esses cargos não conferiam ao pajé ou ao chefe guerreiro nenhum tipo de privilégio dentro da tribo. Os documentos deixados pelos portugueses colonizadores também nos fornecem muitas pistas. Porém, até que ponto os registros dos portugueses apresentam a vida dos nativos? Ou será que refletem uma visão distorcida, já que retratam esses nativos a partir do ponto de vista de uma cultura completamente diferente? Mesmo o nome que utilizamos hoje para designar os nativos que aqui viviam, “índios”, é uma denominação dada pelos portugueses. O que os colonizadores viram ao chegar ao Novo Mundo foi uma população que vivia de uma maneira incompreensível para o modo de vida europeu. Isso se refletiu nos relatos dos viajantes que chegaram até nós e que nos servem como documentos para tentar reconstruir um pouco do modo de vida dos nativos que habitaram o Brasil. Além disso, é preciso levantar outro problema: as descrições feitas pelos portugueses são posteriores a 1500. Sendo assim, o modo de viver dos indígenas já não teria sido alterado pelo convívio com os europeus? Ao se pensar a história do Brasil e o seu dito “descobrimento”, é preciso manter em mente que já havia um grande número de pessoas habitando essas terras, e quão pouco conhecemos sobre os habitantes originais do país que chamamos de Brasil.
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